Foto: Octacílio Barbosa
A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) se despediu neste sábado (15/05) de seu ex-presidente, Jorge Picciani. O corpo foi velado no saguão Getúlio Vargas, entrada principal do Palácio Tiradentes. Picciani morreu na madrugada da última sexta-feira (14/05), aos 66 anos, vítima de um câncer na bexiga, contra o qual lutava há vários anos. Familiares, amigos, autoridades e parlamentares compareceram para prestar as últimas homenagens ao ex-deputado, que presidiu a Alerj por seis mandatos, em três legislaturas.
André Ceciliano, atual presidente da Casa, prestou condolências à família e falou sobre o legado de Picciani ao Legislativo estadual: “Desejo aos familiares força, que Deus possa abençoá-los neste momento de dor. Jorge Picciani deixou uma marca muito forte aqui na Assembleia Legislativa. Ele tinha o respeito dos deputados, porque cumpria com a palavra empenhada. A imagem que fica é de um homem que tinha muita credibilidade no meio político. Deixa uma lacuna na política fluminense”, declarou.
Para o governador Claudio Castro, que esteve presente ao velório, Picciani ajudou a transformar o estado. “Picciani deixou um legado, participou de muitas transformações estruturais que o Rio de Janeiro teve. O estado perde um grande político. Temos que olhar sempre para o que as pessoas deixaram, e em todos os mandatos dele aqui na Alerj deixou muito trabalho em prol do estado”, destacou.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, também presente, ressaltou o bom relacionamento do ex-presidente da Alerj com todos: “Picciani foi um marco na política do Rio de Janeiro, uma pessoa que sempre soube construir pontes, construir relações. Eu, pessoalmente, tenho muita gratidão por ele. Sempre foi muito correto comigo, sempre ajudou muito nos meus mandatos de prefeito. É uma perda que lamentamos, mas o legado dele fica”.
Um dos filhos de Picciani, o ex-deputado Rafael destacou o lado humano de seu pai. “Nós da família vemos aqui a gratidão de todos os presentes, fruto de sua generosidade. Fica nítido que não é uma despedida do político, mas sim da pessoa. Nunca imaginamos que ele iria tão cedo, uma pessoa que sempre foi forte, cheia de vida, projetos e planos. Mas quis Deus que fosse assim. Fica a saudade e a memória de tudo o que ele fez”, ressaltou Rafael, que fez um emocionado discurso de despedida ao lado dos irmãos Leonardo, Felipe e Arthur; e da esposa de Picciani, Hortência Oliveira, entre outros familiares.
Para o deputado Rosenverg Reis (MDB), foi um privilégio ter sido deputado junto com Picciani. “Perdemos um grande amigo. A política perdeu muito, e deixo meus sentimos à família”, declarou.
O deputado federal Paulo Ramos lamentou a perda de um amigo muito próximo: “Convivi com o deputado Jorge Picciani durante muitos anos. Perder um amigo é sempre muito difícil. Estou triste e espero que ele descanse em paz. Deu sua contribuição e é um nome importante do Rio de Janeiro. Para a família, fica meu pesar”, declarou.
Presidente da Alerj
Picciani foi presidente da Alerj e se notabilizou como líder político e também por legislar em defesa do Estado do Rio. Ao receber a notícia do falecimento, Alerj decretou luto de três dias em homenagem à memória de um dos mais importantes políticos da história recente do Parlamento fluminense.
O emedebista liderou frentes de luta em defesa da transparência e implementou diversas mudanças na Alerj, em nome de uma gestão austera e mais eficiente. Na sua administração, por exemplo, foram instaladas as CPIs do Propinoduto e das Milícias; foram criadas a TV Alerj, o Fórum Permanente de Desenvolvimento do Estado, além do Mecanismo de Combate à Tortura. Picciani pôs em votação projeto contra o nepotismo, proibindo contratação de parentes nos Três Poderes. Ele ainda foi autor de importantes leis como a que reduziu o recesso (férias) parlamentar, e a que criou o vagão exclusivo para mulheres em trens e no metrô.
O ex-deputado também implantou o ônibus do consumidor, que passou a rodar o estado para atender às queixas da população; idealizou o Parlamento Juvenil, em que jovens das escolas estaduais legislam durante uma semana, para conhecerem de perto o trabalho feito na Alerj, o que ajuda no exercício democrático e na formação de novas lideranças (a iniciativa acabou sendo copiada por outros Parlamentos). Em nome da transparência, ele passou a disponibilizar no site da Assembleia a lista de presença dos deputados, seus gastos, viagens, além da listagem dos auxílios-educação, por gabinete. Na sua gestão foram criadas ainda a Comissão de Defesa do Consumidor (Codecon) e o Disque Criança e Adolescente.
Trajetória política
Em 1990, Picciani conquistou o primeiro de seus seis mandatos como deputado. Ele passou por todos os cargos importantes do Legislativo até se eleger, por quatro mandatos consecutivos, presidente da Alerj (de 2003 a 2010). No ano de 2015, depois de ficar quatro anos afastado, voltou a ocupar a presidência da Casa, com 65 dos 70 votos dos deputados. Seu primeiro ato, na ocasião, foi propor um pacote de medidas de transparência e austeridade, entre eles a redução do auxílio-educação.
Em 2010, Picciani disputou uma cadeira no Senado Federal, obtendo 3.048.034 votos, e não se elegeu por uma diferença de menos de dois pontos percentuais para o segundo colocado. Presidiu também o MDB-RJ por muitos anos, tendo sido um dos principais articuladores do cenário político do estado. Em julho de 2017, se afastou do Parlamento para se dedicar ao tratamento contra o câncer.
Formado em contabilidade pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e em estatística pela Escola Nacional de Estatística, do IBGE, Jorge Sayed Picciani nasceu em 25 de março de 1955, oriundo de uma família humilde de Mariópolis, na Zona Norte da capital fluminense, e por 30 anos foi pecuarista. O Grupo Monte Verde, que ele presidia, é referência no setor. Ele era casado com Hortência Oliveira e deixa cinco filhos: os ex-deputados Leonardo e Rafael Picciani, o zootecnista Felipe, e os caçulas Arthur e Vicenzo.
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