A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga atos de intolerância religiosa no estado realizou uma audiência pública remota, nesta terça-feira (22/06), para analisar ocorrências de intolerância no município de Campos dos Goytacazes, no norte do Rio, e na Baixada Fluminense. O colegiado ouviu os relatos de Mãe Torody, liderança religiosa da Baixada, e do subsecretário municipal de Igualdade Racial e Direitos Humanos de Campos dos Goytacazes, Gilberto Firmino Coutinho Júnior, também conhecido como Totinho Capoeira.
Gilberto Firmino iniciou a audiência traçando um histórico da intolerância religiosa, com praticantes de religiões de matrizes africanas, em Campos. Segundo o subsecretário, desde a década de 1970 são registrados ataques e perseguições aos adeptos da umbanda e do candomblé. Os casos teriam se intensificado a partir dos anos 2000. “Já tivemos em Campos aproximadamente 60 casos de invasão de casas de umbanda e de candomblé. Não há uma ação constante do poder público para coibir essas agressões. Passamos por um momento de terrorismo”, declarou Totinho.
Mãe Torody destacou a importância do ensino de respeito a diferentes religiões em escolas. "Queremos respeito, em primeiro lugar; não tolerância. A primeira forma de encarar essa luta é a educação. Precisamos de ferramentas para encarar o desrespeito e orientar sobre como vivemos e como somos agredidos", frisou. Torody relatou que na Baixada Fluminense os adeptos das religiões de matrizes africanas são reprimidos ao usarem o torço (pano utilizado na cabeça) e ao vestirem roupas brancas.
Presidente da comissão, a deputada Martha Rocha (PDT) lamentou os casos relatados e falou sobre os objetivos da CPI. “Lamentavelmente, os direitos não estão sendo garantidos. Falar de intolerância é pouco pro tamanho do problema. É um racismo religioso cruel, que atinge muitas pessoas no nosso estado e no nosso país. Apesar das estruturas existentes, elas não estão sempre preparadas para enfrentar o problema. Nós, da CPI, tratamos da proteção das vítimas de racismo religioso, e queremos criar uma rede para que estas pessoas estejam protegidas”, pontuou.
A deputada Tia Ju (REP) também ressaltou o papel central da educação no combate aos casos de intolerância religiosa. "É importante trabalhar com a prevenção, que é a educação. Eu, e muitas outras pessoas, estudamos todas as religiões na escola. Não causa dano cultural, causa entendimento e dá liberdade de escolha", ponderou. Já o deputado Átila Nunes (MDB) chamou a atenção para a responsabilização criminal dos comandantes de ataques e agressões religiosas. "Enquanto não forem responsabilizados criminalmente os líderes que estimulam as agressões religiosas, não vão terminar os casos de depredação de casas de umbanda e candomblé", criticou.
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